anterior   aleatorio / random   autor / author   poema en español / poem in Spanish   siguiente / next

CARTA A MINHA MÃE

É tão funda e tenaz a desconfiança
de não te haver ofertado a mais pura
emoção quando a alma era inocente,
que eu te quero com culpa e me tortura
o terror de saber que talvez nunca
te possa dar o amor que tu mereces.

Meu menino brincão está morrendo
de tanto machucá-lo a tua lembrança,
e há o sabor amargo que alimenta
os meus atos de adulto e responsável.

Senhora: vou morrendo. Hoje sou outro.
Mas há um eco antigo que me traz
tua voz de veludo, tua mirada
de tranquila doçura ao ver-me em ânsias
e a tua mão segura de pastora
conduzindo o rebanho pela vida.

Perdoa-me essa ruga que te marco.
Perdoa-me este amor sem estatura.
Perdoa-me se chego a desvelar-te
com este grito de pássaro ferido.
Vou andando, Senhora, sem remédio.
E, embora saiba que só em teu regaço
acharei minha voz e poesia,
enfrento o abismo resignado e dócil.
Fala-me coração para ser teu filho.

autógrafo

Homero Icaza Sánchez>
Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira


«Poemas para cuerdas» (1956)

español Versión original

subir / top   poema aleatorio   siguiente / next   anterior / previous   aumentar tamaño letra / font size increase   reducir tamaño letra / font size decrease